Passam hoje precisamente 52 anos sobre o início da que ficou conhecida como “Crise Académica de 69”. A Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra não podia deixar passar esta data em claro. E já que a pandemia não permite outro ripo de realizações, pelo menos aqui assinalamos a efeméride.
Foi a 17 de Abril de 1969, dia da inauguração do novo edifício do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra.
A presidir à cerimónia, o almirante Américo Tomás, então Presidente da República, os Ministros das Obras Públicas, Rui Sanches, e da Educação, José Hermano Saraiva, e muitas outras entidades.
No alinhamento dos discursos não fora incluído qualquer representante dos estudantes, apesar de isso ter sido dias antes solicitado pela Associação Académica de Coimbra.
Logo à sua chegada, o Presidente da República foi confrontado com uma situação inédita: uma manifestação de estudantes com cartazes – uma ousadia que na época era imediatamente punida com prisão pela PIDE (a polícia política do regime).
Mas a maior ousadia sucedeu já dentro do auditório onde decorreu a cerimónia, completamente lotado – ao mesmo tempo que centenas de estudantes se concentravam também no exterior. Foi quando o então Presidente da Associação Académica, Alberto Martins, trajando capa e batina, se levantou e, respeitosamente, pediu ao Chefe de Estado para usar da palavra em nome dos estudantes. Tomás foi apanhado de surpresa, levantou-se, ficou uns largos momentos em silêncio, e acabou por responder que sim, mas que antes falaria o Ministro das Obras Públicas.
A verdade é que mal o Ministro acabou o seu discurso, o Presidente da República levantou-se e abandonou a sala, não dando a palavra a Alberto Martins.
Logo se levantou um coro de protestos dos estudantes, com insultos à mistura, enquanto as entidades oficiais saíam da sala (que hoje se chama Sala 17 de Abril). Depois começou a informal sessão inaugural improvisada por dirigentes estudantis, que pagaram caro o atrevimento: nessa mesma tarde e noite a maior perta deles foram presos pela PIDE.
Seguiu-se greve às aulas e concorridas Assembleias Magnas, ode viria a ser aprovada a greve aos exames.
Coimbra foi invadida pela Polícia de Choque e por forças especiais da GNR, o Ministro José Hermano Saraiva fez uma ameaçadora comunicação através da RTP, dizendo que a ordem ia ser restabelecida na Universidade de Coimbra. Mas não foi, esse discurso mais contribuiu para incendiar os ânimos.
Muitos dos dirigentes estudantis foram incorporados no Exército, sem os deixarem concluir os cursos, e distribuídos por diversos quartéis de Norte a Sul do País, onde desenvolveram uma intensa actividade de politização e sensibilização dos jovens oficiais do quadro – o que foi um contributo para o Movimento das Forças Armadas que viria a derrubar a Ditadura 5 anos mais tarde, a 25 de Abril de 1974.
Aqui evocamos os acontecimentos, reproduzindo, com a devida vénia, dois vídeos (um da RTP, outro da ESEC TV) focando estes acontecimentos marcantes não só para a Academia de Coimbra, mas para todo o País.
Fica também o link para a notícia da RUC sobre as celebrações que são hoje promovidas pela AAC.
https://www.ruc.pt/noticia/2021/04/15/aac-assinala-o-dia-17-de-abril-na-baixa-de-coimbra